segunda-feira, 24 de março de 2014

Capítulo 12: Simulação

Outras opções de leitura
Download e Leitura Online (link direto)
Download (mediafire)
Leitura Online (mediafire)


Disclaimer: “Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog http://otherworld-serie.blogspot.com.br

Other World – Capítulo 12
Simulação
por Lilian Kate Mazaki – março 2014


No dia seguinte, ao chegar no auditório da instrução teórica os candidatos se viram diante de um espaço bem diferente do dia anterior. Exatas duzentas poltronas estava arrumadas no espaço que antes estivera vazio. Os jovens foram arrumando suas posições, com os membros dos grupos ficando próximos uns dos outros e posicionando-se ao lado dos acentos. As poltronas eram simples, porém bastante confortáveis e alguns deles repararam que havia um apoio para as pernas, reconhido e travado.
Juliana chegou ao lado da poltrona imediatamente seguinte a de Mari e parou para observar o acento. A primeira coisa que reparou e pareceu não chamar a atenção dos outros era um compartimento anexado ao braço direito da poltrona. Uma pequena gaveta fechada:
― Bom dia, cadetes. ― cumprimentou o instrutor Nigel Steel batendo a porta atrás de si da mesma maneira que havia feito no dia anterior. ― Recebi todos os relatórios de vocês. Todos muito completos.
O homem se postou diante da turma e encarou a multidão. Ele tinha uma postura bem mais animada do que no dia anterior:
― Fizeram muito bem em já escolher seus lugares. Agora, quero que cada um de vocês pegue a caixa que está dentro da gaveta.
Os candidatos ficaram em sua maioria confusos com a ordem, perdendo alguns instantes antes de verificar que havia o compartimento acoplado. Juliana apenas abriu a gaveta e retirou a modesta caixa de papelão de dentro, segurando-a:
― Dentro desta caixa há os acessórios para o início dos treinamentos: um injetor contendo a quantidade padrão de nanorobôs que um soldados precisa ter na corrente sanguínea e um óculos escuro para carregar os programas de simulação neural do Programa Delta. Podem pegar aplicar os nanorobôs no antebraço.
Os jovens abriram suas caixas e encontraram os aplicadores. Um tubo grosso contendo um líquido amarelo encaixado em uma pistola para injetar. Alguns ficaram mais assustado com a ideia do que outros e muitos cochichos e interjeições de preocupação encheram o ar.
Sem hesitar, Juliana levou a ponta do injetor ao antebraço esquerdo e disparou. A dor foi mínima e o líquido amarelo desapareceu do tubo. Uma sensação de formigamento interno se espalhou pelo braço dela por um momento, mas logo foi se tornando imperceptível. Dentre os outros cento e noventa e nove candidatos da turma B apenas Fábio Ivanoff realizou a aplicação sem deter-se por sequer um segundo. Ainda que tenha levado um tempo, logo todos haviam feito o mesmo que Juliana e Fábio:
― Que sensação engraçada. ― comentou Thales depois de aplicar sua dose de nanorobôs.
― Agora, cadetes, podem sentar-se às suas poltronas e recostar. Elas irão inclinar e liberar o recosto para as pernas. Tenham em mãos somente o óculos que estava na caixa. Aqueles que já usam lentes de grau podem deixar seus óculos na gaveta. O óculos de simulação irão ler suas informações de correção e irão aplicar com perfeição, não se preocupem.
Os alunos obedeceram e logo todos estavam recostados, alguns já com os óculos de lentes completamente pretas e opacas no rosto e tantos outros apenas segurando-os.
Nigel ordenou que todos colocassem os óculos e esperassem o sistema dele iniciar. Alguns instantes e um pequeno sistema operacional estava sendo projetado diante dos olhos de cada um dos jovens da turma. Na tela principal haviam apenas duas opções a serem selecionadas "Iniciar/Continuar rotina" e "Desligar". Todos aguardaram em silêncio:
― Escutem com atenção: estes óculos são modernos projetores de realidade virtual que vão dar-lhes plena sensação de estar em outro local e condições, graças ao trabalho conjunto com o HNI de cada um. Nestes ambientes virtuais iremos realizar uma série de exercícios para detectar e aperfeiçoar ao limites as interações de vocês com o sistema.
"Foi por este motivo que pedi as listagens de usos do HNI. Cada um de vocês terá que realizar cada um destes exemplos que me passaram no ambiente virtual."
"Não pensem que destrancar o sistema de segurança de casa será a tão simples quanto normalmente. Vocês terão que realizar isto em um ambiente simulado e irreal, ainda que não aparente. Ser capaz de tirar todo o potencial do HNI mesmo em uma simulação imóvel é uma capacidade e tanto."
"Por hoje vocês irão fazer apenas exercícios de ações cotidianas, mas apartir de amanhã terão introdução a manobras profissionais, para as quais os nanorobôs que agora vocês possuem são necessários."
Ainda que não falassem, os candidatos estavam visivelmente agitados aos olhos do instrutor Nigel Steel. Mexiam as pernas e mãos em atitudes de ansiedade ou mesmo temor. Mesmo que não houvesse excessão àquele nervosismo, o homem de olhos treinados conseguiu construir alguns palpites sobre alguns dos que poderiam a ter um bom desempenho. Era ali que se começaria o processo de separar os inadequados dos nacidos para a carreira de Soldado Delta:
― Irei agora iniciar o programa de todos vocês de maneira simultânea. ― disse Nigel. ― Desejo boa sorte para cada um de vocês.
"INICIAR"










Ao som da voz do instrutor Steel, Juliana pode ver o ícone de início da rotina reagir. Depois disso ela teve uma sensação forte de perder a noção sobre seu próprio corpo. Fechou os olhos quando uma leve tontura a invadiu e só reabriu quando sentiu sua pernas novamente. A imagem diante de seus olhos havia mudado completamente.
Estava em uma sala simples com uma mesinha ao centro. As duas pequenas janelas presentes de um lado da parede mostravam um céu azulado com nuvens do outro lado. A única porta no aposento estava fechada.
Era o ambiente simulado. Ela nunca havia jogado muitos games de realidade virtual, portanto não tinha ainda essa experiência de trocar de realidade. Provavelmente a maioria dos outros cadetes não havia estranhado a irrealidade e tontura que ela sentira, pois era muito comum mesmo para adultos se divertir nesse tipo de entretenimento.
A primeira coisa que Juliana tentou fazer foi dar um comando para andar, mas nada aconteceu. Claro, era diferente dos jogos virtuais onde, ainda que pareça real, o funcionamento é por comando mentais. Ali ela teria que levar seu corpo virtual a reagir da mesma maneira que fazia com seu real. Ela simplesmente tentou andar e ficou satisfeita quando deu o primeiro passo com exatidão.
A jovem caminhou e abriu a porta da sala, que dava para um corredor com outra porta. Chegando até a outra ela percebeu que estava trancada e teve que executar um comando simples de destrancar, que foi efetivo. Atravessando esta segunda passagem, porém, se se viu diante de um cenário bem diferente da pequena sala de antes.
Uma escada que descia diretamente a uma espécie de galpão subterrâneo. Parte do espaço era ocupado por largas mesas de madeira, recheadas de objetos e outra tinha alguns brinquedos de playground, como escorregador e balanço.
"Neste ambiente serão realizados os exercícios do primeiro módulo da Rotina de Treinamento Delta. A duração deste exercício é de quatro horas. A qualquer momento é possível pausar ou sair da rotina, mas é altamente recomendado executar toda a série de exercícios sem pausa." disse uma voz feminina que parecia estar sendo ecoada por um alto falante em alguma parte do galpão. Juliana desceu e logo a voz voltou a falar falar, lhe instruindo para realizar a primeira tarefa. Um simples encaixe de duas peças pequenas de plástico liso. As tarefas seguintes, ainda que fossem gradualmente se tornando mais complexas, ainda eram muito simples para qualquer pessoa.
Quando já havia se passado cerca de três horas Juliana foi instruída a usar os brinquedos do playground para subir, descer, pular, correr e, se lhe fosse possível, pendurar-se. A ruiva achou aqui um tanto ridículo, mas como estava sozinha naquele lugar, fez o ordenado sem hesitar.
A verdade é que a ruiva sentiu um prazer incomum em realizar aquelas pequenas atividades simplórias. Talvez pelo silêncio que predominava enquanto estava seguindo as instruções do programa, ou pelo fato de estar isolada, mas mesmo o simples ato de passar uma linha pelo buraco de uma agulha lhe fez sorrir.
"Atenção, a rotina está chegando ao fim. Posicione-se em pé para que seu retorno seja tranquilo" disse a voz feminina no momento em que Juliana estava se equilibrando sobre uma haste de ferro da parte mais alta de um brinquedo. A garota saltou dali e endireitou-se para aguardar o fim do treinamento.
Não demorou muito e um painel com uma quantidade grande de dados surgisse diante da jovem. Eram informações sobre seu desempenho, mas não houve tempo para que conseguisse ler muita coisa. A sensação de irrealidade sobreveio e, no momento seguinte ela viu a tela principal do sistema operacional dos óculos de novo. Estava relaxada na poltrona de volta.
Muitas vozes encheram o auditório quando os alunos foram se ajeitando nas poltronas e levantando. O instrutor Nigel apenas se sobressaiu para dizer que estavam dispensados para o almoço:
― Cara, mas o que foi aquilo? ― questionou Thales, se juntando a Mari, Juliana e Leonardo. Os quatro já pareciam ter se habituado a ir de um lado para outro juntos.
― Eu digo o que foi. Foi ridículo! ― esbravejou Leonardo. ― Me senti um completo débil, sem conseguir nem abrir uma porta direito. Que droga!
Juliana, que já estava vagando novamente alheia à conversa, despertou ao ouvir esse comentário do rapaz:
― Vocês sentiram dificuldade no início? Sabe, mesmo mentes bem adaptadas ao HNI levam um bocado de tempo para conseguir operar em uma realidade virtual como essa. ― explicou Mari.
― Então você também ficou desse jeito, garota-gênio? ― perguntou Léo, parecendo se alegrar com a possibilidade de a outra ter passado pelo mesmo que ele.
― Na verdade eu não tive problemas com a movimentação mais grosseira. ― disse a loira. ― Mas quando chegou a hora de utilizar os dedos para encaixar coisas, pff. Aquilo sim foi complicado.
― Cara, eu levei uma hora só pra chegar nisso! ― exclamou Thales, parecendo chocado. ― Eu cai da escada e tudo. Tive que tentar descer umas cinco vezes até conseguir direito.
― A escada serve para testar nosso domínio da gravidade simulada. É um desafio e tanto.
― Tô achando que não vamos ser aprovados para ser soldados, Thales. Se nem isso fomos capazes.
― Nem me fala, Léo. Além disso eu tô morto agora. Poderia comer uma tonelada de comida e dormir até amanhã.
― Esse uso mais forçado do HNI realmente cansa. ― concordou Mari. ― Não chegou a estar com sono, mas com certeza uma fome terrível.
― Sorte que você tem um programinha para esconder as calorias do que come. ― comentou Leonardo.
― Mari, será que eu e o Léo não vamos poder ser soldados? ― perguntou Thales, aflito.
― Calma. É normal que seja difícil assim, afinal é um treinamento real para as capacidade do HNI. Mas, dando um palpite, todos que foram capazes de ao menos chegar até os exercícios e realizar um ou dois devem ter controle o bastante para ser um Soldado Delta. Seria absurdo exigir mais.
― Eu gargalhei quando aquela voz disse para usar o playground. Como se alguém fosse capaz de pular ou se pendurar depois de passar três horas naquela tortura. ― riu-se Leonardo, amargo.
― E você como foi, Juliana? ― perguntou o garoto Thales.
Juliana estava com uma expressão bastante perplexa, especialmente para seu estado natural. Encarou os outros três um por um, antes de conseguir arranjar uma resposta:
Normal. . . ― disse, conseguindo fazer com que deixassem passar desapercebido o seu choque diante dos comentários dos amigos.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Capítulo 11: Convivendo com o grupo

Outras opções de leitura
Download e Leitura Online (link direto)
Download (mediafire)
Leitura Online (mediafire)


Disclaimer: “Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog http://otherworld-serie.blogspot.com.br

Other World – Capítulo 11
Convivendo com o grupo
por Lilian Kate Mazaki – março 2014


Após o almoço a maioria dos grupos se dirigiu ao salão de estudos do pavilhão B para realizar a atividade teórica passada pelo instrutor Steel. Juliana tentou escapar para o dormitório, mas foi capturada por Mari antes mesmo que conseguisse alcançar o corredor de acesso do refeitório. As duas encontraram com os garotos Thales e Leonardo e foram para o lugar.
O espaço lembrava as antigas bibliotecas, com muitas mesas de estudo e a algumas cabines individuais, todos os espaços separados por vidros aprova de som. Claro, não haviam prateleiras com livros, já que eles não eram utilizados comumente. Até existia um acervo físico no prédio central da base, porém apenas aficcionados como Juliana visitavam o lugar.
O método atual para realizar estudos e pesquisas em grupo era utilizando as superfícies interativas das mesas. Bastava sincronizar o HNI com o aparelho para que se pudesse projetar navegadores e editores de texto diretamente na superfície. A versão plenamente aceita e utilizada também tinha a adesão de resistência perfeita a líquidos e até aplicativos que monitoravam a temperatura de eventuais bebidas, quentes ou frias, colocadas sobre sua superície.
Quando o grupo composto por Mari, Juliana, Thales e Leonardo chegou até o salão já haviam diversos outros grupo em cabines separadas. Mari identificou o garoto que reconhecera como o filho de Gustavo Barbosa, sentado junto a um rapaz e outras duas garotas. A hacker gastou alguns instantes de pensamento se questionando se o filho seria terrivelmente parecido com o pai ou não.
O grupo pegou uma mesa retangular e cada um assumiu sua posição. Mari colocou um copo de café que havia trazido consigo no canto da sua parte da mesa e automaticamente um marcador laranja ao redor do copo apareceu na superfície. Ali diversas informações como temperatura e composição química da bebida fora exibidos:
― Detesto esse marcadores. Quem disse que eu quero saber quantas calorias tem no meu café? ― disse ela, abrindo um pequeno programa e encaixando na imagem laranja ao redor do seu café.
Com um toque ela abriu o que aparentou ser o código-fonte do aplicativo de interação com bebidas e, dando uma olhada rápida ela digitou uma série de linhas de apagou tantas outras. Depois esticou uma parte do software que havia aclopado ali e um marcador redondo surgiu. Ela o girou e ligou, semelhante ao que se faria a um relógio de cozinha antigo e o mesmo rodou de volta rapidamente. O código digitado se fechou e a borda ao redor do café assumiu uma cor roxa, sem mais mostrar diversas das informações de antes. O software implantado se deletou:
― Agora sim, podemos começar. ― disse. Os dois rapazes ficaram olhando um pouco assustados para o marcador ao redor do copo. Isso porque, teoricamente, era muito trabalhoso invadir qualquer software licenciado e vendido em grande escala e segundo porque o hacking havia sido realizado de maneira tão natural pela garota que pareceu ser apenas uma brincadeira.
― Sabe, a atividade que esse instrutor passou para todos é ridícula. ― disse Leonardo enfim deixando o marcador de lado e focando-se no grupo. ― Até parece que nós viemos para o outro mundo para ficar fazendo pesquisas idiotas, como alunos da primeira série.
― Ah, vai que ele quer ver se agente tem capacidade de usar bem os sistemas de pesquisa. ― arriscou Thales, um tanto incerto.
― Hah, isso é patético, Thales! Nós não estaríamos aqui se não soubessemos fazer nem isso! ― retrucou o irritadiço Leonardo.
― Eles devem estar apenas pegando leve no primeiro dia. ― disse Mari, que havia aberto algumas páginas de notícia e de curiosidades na sua parcela da mesa e também um editor de textos.
― Seja o que for, vamos fazer logo para ficarmos livres. ― disse Thales.
― Livres? ― riu-se Leo. ― Quer dar uma voltinha lá fora depois, é isso?
― Ah, você me entendeu, cara. Não precisa ser tão chato.
― Ok, meninos. ― interveio Mari que já não estava simpatizando tanto com o jeito ranzinza do garoto mais alto e de cabelos escuros. ― Vamos fazer assim, cada um faz sua listagem, começando desde os tipos de uso mais simples do HNI no dia a dia. Depois fazemos um cruzamento inteligente e teremos uma lista completa.
― Affe, mas que coisa mais deprimente. ― reclamou mais uma vez Leonardo.
Os quatro iniciaram suas listagens sem conversar. Thales foi quem mais demorou para começar a anotar alguma coisa no seu documento. Parecia sem criatividade para pensar em meios diferentes de usar o HNI para as mais diversas atividades. Já Juliana sequer abriu o navegador e começaram a aparecer inúmeras linhas na sua listagem. Mari foi distraída da sua própria escrita quando percebeu que a outra conseguia fazer a entrada de até cinco frases diferentes de maneira simultânea. Não apenas a programadora, como Leonardo ficaram um tanto distraídos pela maneira da ruiva.
Na verdade Mari já vinha percebendo que Leonardo sempre parecia distrair de qualquer atividade para observar o que Juliana estava fazendo. Não que fosse tanto da sua conta, mas mesmo que não entendesse a cabeça da introspectiva Lake, provavelmente nem ela ficaria feliz por ganhar um admirador de temperamento tão intragável:
― Acho que não consigo pensar em mais nada. ― comentou Thales, depois de vinte minutos de silêncio.
― Ok. Acho que já podemos juntar nossas listas. ― disse Mari.
Os documentos de Juliana, Leonardo e Thales foram duplicados enviados para o lado da mesa de Mari. Esta abriu outro programa pequeno, de interfaçe circular usou este para "sugar" os quatro documentos. Alguns momentos de processamento depois e um novo arquivo foi impresso na tela, compilando as ideias diferentes de todos os anteriores:
― Prefiro não verificar, mas tenho certeza de que 97% desse arquivo é o da Juliana. ― disse Mari, salvando e enviando cópias para os outros.
― Também, ela listou umas seis vezes mais do que eu. ― comentou Thales.
― Seis vezes mais do que eu listei. ― interpôs a hacker. ― Em comparação a sua deve ter sido umas quinze vezes mais.
― Quem envia isso para praquele instrutor babaca? ― perguntou Leonardo, que mantinha seu mal humor intocável.
― Eu envio. ― disse Mari. ― Farei isso agora mesmo. Só quero saber o que ele fará apartir disso. ― comentou.
― Ei, vocês não querem dar uma volta por aí? Acabamos ficando com um tempão livre hoje. Duvido que seja assim daqui pra frente. ― convidou Thales, animado.
― Minha pena não inclui ter que ser sociável. ― disse Mari. ― Mas, ao contrário da nossa amiga praticamente muda, eu tenho alguma necessidade de socialização. Topo.
― Pena? ― indagou Thales, confuso.
― Você não vem, Juliana? ― perguntou Leonardo.
― Ah. . . ― era visível aos olhos da programadora a insegurança que a outra estava sentindo ao ser questionada diretamente. ― Acho que sim.
― Ei, você é mais humana do que eu achava, Julie! ― surpreendeu-se Mari.
― E onde quer ir primeiro, Espertão? ― perguntou Leornado para Thales, quando grupo já estava caminhando pelos corredores do salão de estudos em direção a saída.
― Tantas escolhas! ― ironizou o rapaz de cabelos castanho claros e rebeldes. ― Olhar para o deserto do Outro Mundo; tirar fotos do deserto do Outro Mundo; comentar qualquer bobagem sobre o deserto do Outro Mundo. Não sei o que decidir.
Maravilha. ― lamentou-se Mari, arrependida de não ter preferido ir atualizar seu blog sobre hacking.






No final da tarde do primeiro dia do Treinamento do Soldados Delta, Matheus Alabart estava mais uma vez na companhia de seus amigos na área de convivência do bloco B da base humana no Outro Mundo.
O grupo composto por ele, Tiago, Sara e Milene estava reunido com o grupo composto por Fernando, Daniel Ivanoff, João e uma menina chamada Carla Machado Steins. Todos trocavam impressões sobre aquele primeiro dia de instruções:
― Vocês viram aquele traje? É super maneiro, cara! Eu quero logo ter um para sair quebrando tudo! ― ia dizendo Fernando, ajeitando o boné frouxo pela milionésima vez. Ele era um dos que estava mais empolgado.
― Deve ser difícil usar aqueles equipamentos. ― comentou Daniel Ivanoff. O garoto era bastante diferente do irmão mais velho, Fábio. Era comunicativo e simpático.
― Ah cara, mas nós fomos escolhidos porque somos capazes! ― contra-argumentou Fernando. ― Vai ser fácil!
― Pois eu não acho que vá ser nada fácil. ― opinou Milene. Dentro dos dois grupos ela foi uma das que menos se empolgou com o Sistema Delta ou suas possibildades.
― O instrutor Steel disse que nem todos tem aptidão para ser soldados, não é mesmo? Ele devia estar falando disso. ― arriscou Sara, que estava sentada um pouco afastada do centro da conversa. Matheus era quem estava mais próximo dali, sentado em uma cadeira com o encosto virado para frente.
― Acho que era um dos fatores. ― ponderou João. Apesar do rapaz a maior parte do tempo parecer bastante bobo pela sua admiração a Milene, a verdade é que ele era bastante inteligente. ― Mas existem mais fatores a serem levados em conta, como a própria motivação do candidato.
― Como assim? ― perguntou Fernando, confuso.
― É fácil, Nando. ― interveiro Tiago, animado. ― Tem gente como nós que querem ser soldados a todo o custo. E tem gente como a Sara, Milene e João que não estão aqui querendo isso.
― Eu ainda não entendo o que vieram fazer aqui. Hunf.
― Meu irmão me disse que isso iria acontecer bastante. ― comentou Daniel. ― Muitas familias que desejam que seus filhos tenham cargos de tecnologia ou administração dentro da OMM devem ter incentivado seus filhos a fazer parte do projeto como um meio de já estar dentro de alguma forma.
― É exatamente meu caso. ― disse João. ― Eu quero ser advogado, assim como meu pai. Quero ser do setor jurídico da OMM, por isso é mais fácil já ter contado com a organização desde já.
― Sabem, eu concordo um pouco com o Nando. ― disso Tiago. O garoto parecia ser incapaz de ficar muito tempo sentado em uma mesma cadeira. Andava, mudava de lado, de lugar, mas estava sempre interado da conversa. ― Vocês provavelmente não vão aproveitar tanto o treinamento.
― Estive lendo a programação do Projeto Delta. ― começou Milene. ― Eles pretendem logo separar os que realmente chegarão ao treinamento de soldados e então dedicar os restantes para aulas teóricas diferenciadas, mas também voltadas para o aprimoramento do uso do HNI.
― Viu só. Seremos pessoas diferenciadas por esse treinamento. É um grande negócio. ― concluiu João.
As conversas caminharam novamente para os detalhes do traje e tecnologia do Sistema Delta, porém Matheus não estava prestando atenção, perdido em seus próprios pensamentos:
― Matheus? ― chamou Sara, com a voz mais baixa para se direcionar apenas ao rapaz.
― Ah? O que foi? ― perguntou o loiro, acordando das suas reflexões.
― É que você está quieto. Está tudo bem?
― Sim. ― disse ele, fintando o rosto sorridente de Sara. Um calor se espalhou pelo seu peito. ― Está tudo ótimo sim, Sara.
― Que bom. Você costuma ficar mais quieto quando tem muita gente reunida, não é?
― Ah. . . Um pouco. ― respondeu Matheus. ― Você está gostando do treinamento? ― perguntou ele, interessado em puxar um diálogo com a garota.
― Por enquanto está tudo muito interessante. Só espero não passar nenhum aperto por causa da minha falta de jeito para essa coisa militar.
― Não precisa se preocupar. Eles não iriam arriscar com os que não serão soldados. E, bom, se for preciso, eu não vou deixar que nada te aconteça. ― disse Matheus, ficando muito nervoso para terminar a sua frase.
― Você. . . ― Sara encarou o garoto por mais tempo do que este desejaria, para o bem da sua timidez. ― Você é um amor, Matheus.
― Ah. . .
― Ei Matheus, Sara. ― chamou Tiago, chegando até os dois e interrompendo o diálogo. ― Que tal ir pegar alguns refris pro pessoal? Vamos lá! ― disse, já puxando os dois, cada um por um dos pulsos.
― Ei Sara, esse lugar não é incrível? É tão grande e é só um dos cinco pavilhões de treinamento. É fantástico. ― comentou Tiago.
― Ah, sim. ― respondeu Sara, um tanto constrangida.
Matheus não conseguiu disfarçar muito bem a frustração na sua expressão. Tiago era seu melhor amigo, mas às vezes tinha vontade de mandar ele fica bem longe, ainda mais em momento em que ele, Matheus, estava tendo uma conversa bacana com. . .
― Matheus?
― Hã? O que foi, Tiago?
― Cê tá viajando nos pensamentos hoje, né.
Foi mal. ― respondeu o loiro, ainda um tanto emburrado, olhando para as enormes janelas.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Capítulo 10 - O Sistema Delta

Outras opções de leitura
Download e Leitura Online (link direto)
Download (mediafire)
Leitura Online (mediafire)


Disclaimer: “Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog http://otherworld-serie.blogspot.com.br

Other World – Capítulo 10
O Sistema Delta
por Lilian Kate Mazaki – março 2014


Os recrutas tiveram que acelerar o passo para acompanhar a instrutora Nadia. Esta marchava pelos corredores, com passos ágeis, sem olhar para os jovens. As conversas e perguntas feitas uns para os outros ressoavam pelas paredes que misturavam metal e pedra de maneira harmônica. Depois de dez minutos a mulher enfim parou diante de uma sala fechada e aguardou os retardatários se aproximarem do amontoamento:

Esta será a sala de treinamento prático de vocês. ― informou ela. ― Hoje iremos apenas demonstrar as tecnologias que vocês irão ter que aprender a lidar, mas mesmo assim terão que ficar em pé e enfileirados para receber as informações. ― disse e num movimento a porta de aço se abriu.

A sala, ou melhor, salão, parecia ter tamanho o suficiente para comportar um estádio de futebol inteiro dentro. Muito bem iluminado e com uma das paredes completamente feita do vidro de proteção grosso que se via nas janelas da base, permitindo uma visão privilegiada de quilômetros sem fim da paisagem desértica que cercava as instalações. Nadia rumou para o palco localizado numa das extremidades do local enquanto os jovens se organizavam:

Vamos lá, vocês não sabem fazer fileiras? ― reclamou a instrutora devido à demora dos recrutas, em grande parte causada pelo fascínio da paisagem sobre uma parcela grande do grupo.

Juliana acabou ficando em uma posição privilegiada, à frente de uma das fileiras centrais, à poucos metros de Nadia, que caminhava de um lado para o outro, procurando e apontando locais de desorganização. A ruiva estava um tanto mais ansiosa do que ela mesma esperaria. Admitia que essa sensação era influência de alguns comentários que escutara durante o caminho. As palavras ainda ressoavam na sua mente:

Parece que finalmente vamos ver com nossos olhos o trunfo final de Jonny Lake”

Fábio, você está querendo dizer que os equipamentos secretos dos Soldados Delta também foram desenvolvidos pelo Dr. Lake?”

Isso mesmo, Daniel. O grande segredo que Gustavo Barbosa usou para convencer mesmo a ONU sobre a viabilidade do Plano. O uso mais fantástico do sistema HNI. Estou ansioso para ver com meus olhos.”

Juliana não compreendia bem, mas a chance de ver o resultado do trabalho ao qual seu pai se esforçara durante tanto tempo havia lhe trazido de volta para a realidade muito mais do que qualquer coisa desde a tragédia no apartamento quinhentos e sete. Pela primeira vez não era insuportável pensar em algo relacionado aos seus pais, pelo contrário. A ruiva queria ver, tocar, entender o trabalho que a fizera ver o pai tantas vezes chegar quase de madrugada em casa e sair todos os domingos bem cedo para o laboratório. Era como se, seja lá o que fosse aquele equipamento secreto, ele fosse uma parte com algum significado em sua própria vida:

Nossa, então você já é da equipe de programação da OMM, mesmo sendo tão jovem? Como conseguiu isso? ― perguntou Thales, que estava posicionado logo atrás de Juliana.

Digamos que eu provei para eles que tenho meu valor. ― respondeu Mari, que estava logo na fileira do lado esquerdo, à três lugares da ponta. O garoto parece interessado em fazer mais perguntas, mas neste momento a instrutora chamou a atenção dos recrutas, para enfim dar início às instruções da parte práticas do treinamento.

Recrutas, como já foi dito antes, eu sou Nadia Rock, uma das pessoas que vai acompanhar o desenvolvimento das atividades práticas do Plano de Treinamento dos Soldados Delta. Junto ao instrutor Basil Vieira, iremos passar-lhes todos os ensinamentos e técnicas necessárias para que sejam soldados com plenas capacidades de participar das explorações pelo território do Outro Mundo, assim que completarem seus dezoito anos.

A plateia apenas ouvia a mulher, se que quaisquer conversar paralelas fossem notadas:

Hoje iremos apresentar e demonstrar todas as funcionalidades dos equipamentos mais avançados já desenvolvidos pelo Homem para a sobrevivência e exploração de ambientes hostis. Estou falando do kit completo de vestimentas, ferramentas e acessórios que a OMM vem desenvolvendo desde sua fundação para o uso dos Soldados Delta. Por favor, instrutor Basil, pode entrar.

Neste momento, vindo de uma porta atrás do palco surgiu um homem alto, de cabelos escuros e curtos. A medida em que ele se aproximou da ponta do palco, os olhares dos jovens recrutas sob ele se tornaram mais impressionados. Isso porque ele não estava trajando o mesmo macacão cinza escuro que Nadia vestia. Era uma roupa completamente diferente disto. Um traje.

De maneira simplificada tratava-se de um colante de um tom cinza arroxeado, muito escuro, que lhe cobria os corpo inteiro. Por cima do material, que passava a impressão de ter uma textura escamosa, haviam luvas e botas grossas, igualmente modeladas aos seus membros, além de uma proteção nos quadris, ligada a um cinto fino mais proeminente. A gola do tecido escuro ia até o alto do pescoço do homem.

Esta, recrutas, é a vestimenta básica oficial das tropas da Organização Mundial de Exploração do Outro Mundo, os Soldados Delta. Ou seja, será o uniforme dos que obtiverem sucesso no treinamento dos próximos dois meses.” declarou Nadia Rock, com um sorriso de satisfação inegável no rosto. Parecia que ela sentia a mesmo fascínio do que aqueles jovens que viam pela primeira vez o traje.

Claro, esta é apenas a parte mais básica do equipamento dos Delta. Um tecido impermeável, totalmente maleável, com proteções de temperatura, pressão, corte e até certo ponto, impacto. É sobre esta vestimenta que todo o corpo de equipamentos de altíssima tecnologia da OMM vai operar, através do comando do soldado.”

Vejam esta pequena maleta.” disse Nadia, pegando um pequena maleta preta que estava posicionada a um canto do palco e erguendo-a para que todos os recrutas a vissem. “Dentro desta modesta mala, está todo o equipamento de combate e sobrevivência dos Delta. O principal objetivo deste treinamento intensivo de dois meses é que vocês aprendam a utilizar com excelência este pequeno maquinário.”

Como já foi dito pelo próprio General Barbosa, o motivo de vocês, mesmo tão jovens, terem sido selecionados para o Plano, é a capacidade nativa de cada uma de vocês possui por carregar um HNI desde os três meses de vida. Todos vocês, sem exceção, tem capacidade plena de utilizar o melhor deste equipamento muito melhor do que todos nós, atuais instrutores e forças básicas de proteção da Base. Espero que cada um aqui que esteja determinado a ser um Delta veja este equipamento como o real e maior motivo para ter o HNI no cérebro. Só quem pensar assim chegará ao limites do ser humano.”

Os jovens pareciam hipnotizados pelas palavras de Nadia. Basil observava os rapazes e moças ali, em pleno crescimento, e também foi tomado pelo sentimento de total certeza de que aquele era o futuro do desenvolvimento humano, guiado por aqueles que ainda era crianças, mas que em breve se tornariam soldados.

Basil, vamos mostrar agora para eles o que de bom tem aqui. ― disse Nadia, entregando a maleta para o colega. Basil aceitou o objeto e o apontou para frente num ato quase teatral, enquanto Nadia se dirigiu até a porta atrás do palco.

Vejam, recrutas, é isto que lhes pertencera em breve. ― disse ele, com sua voz muito grave, abrindo a maleta na vertical.

Mesmo os recrutas nas primeiras posições das fileiras não compreendeu a princípio o conteúdo que se revelou da maleta. Pareciam um pequeno conjunto de acessórios estranhos, encaixados na espuma de proteção. Pareceu que os mais curiosos iriam quebrar o silêncio da plateia, porém algo aconteceu antes disso.

Os pequenos equipamentos dispararam no ar, para frente, fazendo várias garotas soltarem exclamações de surpresa. No momento seguinte, em um movimento veloz, as pequenas peças se voltaram para Basil, que largou a maleta de lado e esticou os braços para os lados. Foi então que os equipamentos foram se encaixando em diversas partes do traje básico do instrutor, como ao redor dos pulsos, tornozelos, próximo aos cotovelos e joelhos. Depois desse encaixasse, num movimento autônomo, hastes se esticaram entre algumas destas pequenas partes, os unindo e, por fim, se ajustando de modo perfeito aos membros do homem. Todo o processo durou menos quinze segundos.

Este é o “Sistema Delta”. ― disse Nadia Rock, que voltava para o lado de Basil, trazendo consigo o que pareciam ser duas partes maiores daquele equipamento. ― O grande projeto da vida de Jonny Lake e Jonanthan Alabart .

O controle de todo o equipamento é feito através de uma interface direta com o HNI, em conjunto com a ação de nanorobôs instalados na corrente sanguínea do soldado.” continuou ela. “Este equipamento interage com a energia gerada pela própria máquina humana, além do campo magnético que as interações do HNI com os nanorobôs gera. Não pensem que estou exagerando quando digo que, com um treinamento intensivo, vocês se tornaram capazes de feitos antes atribuídos apenas aos super-heróis da ficção. A potencialização da máquina humana, através deste sistema, pode chegar em até quatrocentos por cento, segundo os estudos e projeções que Jonny Lake deixou como legado para a OMM.”

Bom, ainda tem dois itens obrigatórios do sistema, mas que não fazem parte dessa parafernália maravilhosa. ― disse Nadia, erguendo as duas partes maiores que carregava. ― Primeiro, este “cordão”, por assim dizer. Mostre a eles, Basil.

O instrutor Basil pegou o cinturão grosso, feito do mesmo material dos equipamentos aderidos ao seu traje e o passou pela cabeça, deixando que o mesmo se encaixasse ao redor da base do seu pescoço com a mesma precisão dos outros. No instante seguinte uma barreira transparente se ergueu do cordão e, fazendo um contorno próximo à sua cabeça, fechando-se. Se já não fosse impressionante o bastante, enquanto este processo se realizava, o equipamento encaixando na parte superior do pescoço do homem reagiu e uma membrana nos mesmos tons do uniforme se estendeu, cobrindo as orelhas e cabelo de Basil, deixando visível apenas seu rosto.

A primeira expedição humana no Outro Mundo foi um fracasso. Boa parte da equipe foi morta pelos componentes nanoscópicos da atmosfera deste lugar. Um tipo de molécula que nenhum filtro até então construído era capaz de deter. Mas, depois destas cinco décadas de trabalho, cada soldado poderá contar com um filtro de ar perfeito e individual, completamente seguro, durante suas caminhadas pelo Outro Mundo.” disse Nadia e Basil apontou para o cordão. “Esta película é a bolha de sobrevivência do Delta. Ela é tão resistente quanto os melhores vidros blindados que se veem por aí, mas fica desde já o alerta: jamais seja atingidos por qualquer objeto que seja, na cabeça. Pode não ser fatal, mas não vale a pena arriscar.”

Por fim, o mais básico e óbvio: uma arma” disse Nadia erguendo o outro objeto que agora era fácil reconhecer como uma pistola. “Poderosa, eficaz, mas nada mais do que isso. Não estamos aqui neste mundo para lutar, então este equipamento não é nada mais do que uma ferramenta para apertos. Também existem uns outros brinquedinhos que mostraremos a vocês na hora certa.”

Depois disso, Nadia adentrou a alguns detalhes históricos do desenvolvimento do Sistema Delta, tudo de modo bastante sucinto, apenas para dar aos recrutas uma idéia da forma como as tecnologias foram evoluindo. Esta parte da palestra estendeu-se por pouco mais de trinta minutos. Era bem verdade que a minoria parecia interessada nas informações, estavam muito mais focados na presença silenciosa porém imponente do outro instrutor, que apenas ouvia Nadia, estendendo os membros ou se virando para destacar algum detalhe do traje:

Por hoje, recrutas, o treinamento prático vai terminar por aqui. Não se iludam, a partir de amanhã as coisas se tornaram bem mais intensas. Hoje, se limitem às atividades teóricas do instrutor Natan. Estão dispensados.”

As conversas explodiram assim que os jovens foram saindo do salão. O tom geral era de exaltação. Mesmo os que não estavam empolgados para vestir um daqueles trajes, demonstrava total admiração:

Parece algo saído do direto dos filmes de ficção científica. ― disse Sara Silveira, que caminhava junto ao seu grupo de amigos já conhecidos.

É demais! Eu não vejo a hora de estar detonando com aquele uniforme! ― exclamou Tiago, sacudindo os punhos.

Eu também, Tiago! Tenho certeza de que vou detonar! ― disse Fernando, desafinando a voz devido à empolgação.

Até parece. ― provocou Matheus, que caminhava com os braços cruzados na frente do corpo. A verdade é que ele também estava empolgado, mas preferia parecer contido diante dos outros.

Ei, Matheus, vamos disputar nossas habilidades o quanto antes, que tal? ― propôs Tiago, esticando a mão para o amigo.

Ah. . . ― Matheus hesitou por um momento, e seu olhar se desviou momentaneamente para Sara, antes que ele encarasse o amigo e aceitasse seu cumprimento. ― É claro.

Juliana e Mari havia sido quase as últimas a deixar o salão. A loira falava sem cessar:
É realmente algo completamente à frente do nosso tempo. Não dá pra acreditar que Jonny desenvolveu tudo isso. É claro que ele teve o trabalho de toda a equipe para poder tornar os projetos realidade. Mas mesmo assim, é fantástico.

É sim. ― concordou Juliana, sem prestar muita atenção às palavras da outra. Internamente a ruiva estava preenchida de uma gama de sentimentos. Havia um pouco de dor, mas algo muito mais forte parecia se sobressair às lembranças e pensamentos dolorosos: era a ansiedade.

Ei, Julie. Você está parecendo um pouco acordada.

Como poderia estar dormindo?

Você me entendeu. Você está sempre dormindo para tudo ao seu redor, mas agora está parecendo bem acordada. ― disse Mari. ― Você ficou admirada?

Não é bem isso. ― respondeu Juliana.

Então?

Eu acho que. . . ― começou Juliana, sem saber muito bem o que dizer. Deixou que a primeira ideia que lhe apareceu saísse. ― Acho que encontrei algo além dos livros que eu goste.