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Disclaimer:
“Other World” é uma web-série independente, cuja a autoria
pertence à Lilian Kate Mazaki, publicado originalmente no blog
http://otherworld-serie.blogspot.com.br
Other
World – Capítulo 14
O
Primeiro de todos os saltos
por Lilian Kate Mazaki – abril
2014
Agora com a divisão entre futuros soldados e os potenciais
engenheiros, administradores e mesmo arquitetos da OMM a rotina dos
jovens instalados na base em meio ao deserto do Outro Mundo se
alterou: soldados ainda teriam suas aulas nas turmas de 200 alunos de
cada bloco pela manhã, porém à tarde os 250 aprovados eram
reunidos em uma turma única.
No início da quinta-feira, como nos três dias anteriores, Juliana e
Mari saíram cedo para tomar café da manhã com calma. A
programadora tinha olheiras visíveis e a ruiva não se surpreendia
por isso: era costumeiro que Mari ficasse jogando no computador até
metade da madrugada, mesmo agora que tinham que levantar na segunda
hora da manhã. Juliana se perguntava se era tão divertido assim
interagir com outras pessoas através do computador, questionando-se
inclusive se ela conseguiria conversar com mais tranquilidade se
usasse essa plataforma.
Alguns minutos depois das duas iniciarem sua refeição Thales e
Leonardo apareceram para acompanhá-las. O mais alto, que já tinha
olhos finos derivados de alguma descendência oriental, estava
parecendo andar de um lado para o outro como sonâmbulo. Porém tinha
uma coisa nele que nunca dormia, e era o mal humor:
― Ah, como eu queria ter dormido bem mais cedo. Estou quebrado. ―
comentou.
― Mais cedo ainda, Leo? Cada, não era nem meia noite quando você
dormiu! ― exclamou Thales estupefato.
― Eu preciso de muitas horas de sono, magrelo. Não sou pequeno que
nem tu pra gastar pouca energia.
― Tsc. Que desculpa mais esfarrapada. ― concluiu Thales, enfiando
metade de um pão na boca.
― É sempre uma benção para meu dia ouvir vocês dois logo cedo.
― comentou Mari, que tinha diante de si uma dose enorme de café
preto.
― Ei Mari, o que cê vai fazer durante a tarde, já que não vai
participar do treinamento dos Soldados Delta? ― perguntou Thales,
ignorando a irônia desta.
― Eu tenho sempre o que fazer nos andares inferiores do prédio
central da base. ― disse a hacker. ― Ainda existem alguns
resquícios de códigos pra limpar. Além disso aposto que o pessoal
lá da Terra está só esperando eu dar as caras para me passar vinte
módulos para atualizar.
― Nossa, você realmente trabalha na OMM. É incrível. ―
espantou-se Thales, mesmo que não tivesse entendido nada sobre o que
ela faria.
― Você achava que eu estava mentindo o tempo todo? ― perguntou
Mari, erguendo uma sobrancelha.
― Não! Só que. . . é impressionante. ― disse prontamente o
rapaz, sincero.
― Fico quase lisonjeada.
― Eu ainda quero saber como foi que você conseguiu isso. Não
acredito que tenha sido por meios legais. ― comentou Leonardo,
tomando em seguida um gole enorme do seu café com leite.
― Sorte a minha que só quem sabe disso é nossa amiga-muda, Julie.
― disse a loira, se inclinando para encostar o ombro no de Juliana,
esta comia duas torradas em silêncio.
― Bem que você podia quebrar um galho e matar essa curiosidade, né
Juliana. ― sugeriu Thales, mas a ruiva não só ignorou, como pegou
o pedaço de vidro que estava usando para projetar um texto e avançou
um pouco sua leitura de modo displicente.
― Comunicativa como uma pedra coberta de musgo. ― riu-se Mari.
A instrução teórica daquele dia não diferiu dos últimos dois
dias: simulação. Dessa vez os estudantes foram levados a interagir
com sistemas computacionais convencionais e antigos, dentro do
ambiente virtual. Depois do almoço Juliana, Thales e Leonardo se
despediram de Mari e partiram para o salão de treinamento do bloco
A, onde os recrutas dos cinco pavilhões iriam ter suas instruções.
Os três foram surpreendidos quando uma funcionária à porta do
salão lhe indicou que deviam ir antes aos vestiários anexos para
trocar suas roupas:
― Caramba, nós vamos usar os trajes! ― exclamou Thales sem se
conter.
― Toda a instrução prática de agora em diante irá utilizar das
capacidades dos trajes dos Soldados Delta. ― acrescentou a
funcionária que parecia divertir-se com a reação do rapaz.
Reação que não era exclusiva dele, aliás. Quando Juliana estava
acalçando a entrada do vestiário feminino passou por ela correndo,
vindo do outro trocador um garoto loiro, parecendo que iria explodir
de felicidade:
― Caraca, eu não acredito! Eu sou um soldado! Isso é demais! Isso
é demais!
― F-Fernando! Para com essa gritaria! ― disse outro rapaz loiro
um pouco mais velho, correndo atrás do primeiro.
Juliana sorriu para aquela cena e entrou no vestiário feminino. Ela
não criticou aquela euforia infantil que o menino Fernando tivera.
Muito pelo contrário.
Ao abrir o armário onde já estava gravado seu nome, Juliana sentiu
uma onda de arrepios pelo corpo inteiro. Pegou o traje perfeitamente
dobrado e o deixou esticar diante de si. Ainda que só o conhecesse a
três dias, tinha a sensação de que o desejara tanto como se o
fosse desde seu nascimento. Se não fosse pela sua timidez excessiva
a jovem poderia ter cometido várias gafes de comportamento parecidas
com a de Fernando. Ela se dirigiu a um box e despiu-se dos jeans,
sapatos, blusa e jaqueta para então compor sua nova imagem.
A roupa foi muito mais simples de colocar do que esperaria. Era quase
como se o tecido se afastasse e ajudasse a ir para o local adequado.
Quando enfim Julie posicionou a gola o traje automaticamente
ajustou-se com perfeição ao seu corpo.
Talvez fosse proposital para causar impacto nos novatos, mas dentro
de cada box havia um espelho de corpo inteiro. Juliana encarou sua
aparência. Determinou que seus cabelos ruivos não combinavam em
nada com o roxo escuro e agradeceu ter que prendê-los. O tecido das
luvas não atrapalhava sua mobilidade dos dedos de modo algum e ela
conseguiu com facilidade fazer um rabo de cavalo baixo e colocar as
pontas dos fios para dentro da roupa. Ao encarar seu rosto no espelho
ela pode ver a ansiedade e excitação visíveis claro ali. Riu-se ao
pensar nas piadas que Mari faria se a visse com aquela expressão e
saiu.
Ao entrar no salão de treinamento, gigantesco tanto quanto o que
existia no bloco B, logo a voz de Thales chegou ao seu ouvidos:
― Ei, Julie, você ficou muito bem nos trajes! ― elogiou o rapaz,
com um sorriso genuíno, porém Juliana não espava por isso e acabou
ficando um tanto constrangida. Foi visível quando seu contrangimento
foi percebido de volta por Thales. ― E-Er, não me leve a mal! Eu
só estava dizendo que você fica bem como um soldado deve ficar!
E-Eu. . .
― Eu entendi! ― exclamou Juliana, sentindo o rosto quente.
Leonardo pareceu absolutamente estarrecido com aquela reação da
garota. Como se estivesse testemunhando um milagre da natureza pela
primeira vez na vida.
Nesse momento a instrutora Nadia Rock andetrou no salão, também
usando o traje roxo-acizentado e com uma expressão de divertimento
genuína como até então não havia aparentado:
― Verdadeiros Soldados Delta! Estão prontos para começar com a
Educação Física? Vou mostrar a vocês como isso pode ser
divertido!
Depois de quinze minutos os recrutas estava todos enfileirados
próximo a parede oposta à grandiosa de vidro transparente que
mostrava a paisagem do Outro Mundo. Encaravam o deserto lá fora
enquanto as palavras da instrutora era amplificada para chegar aos
seus ouvidos. Ela circulava a sala com grande velocidade, utilizando
uma espécie de planador baixo que lembrava grosseiramente uma
prancha de skate:
"Ontem de manhã vocês tiveram noção do que o traje é capaz
de fazer, isso através das simulações. Hoje vamos começar a
desenvolver suas habilidades reais de uso da nanotecnologia do
Sistema Delta. Não queria ser cruel, mas a verdade é que isso será
bem mais difícil de realizar aqui fora do que na simulação."
"Veem essa marca que corta toda este salão de uma ponta a outra
bem na metade? Pois a primeira atividade para testar e forçar suas
capacidade de lidar com o Sistema será um simples salto.
Posicionem-se a meia distância desta linha, corram até ela e
saltem."
"Cada metade do salão tem 37 metros. Eu consigo fazer um salto
de 20 metros, mas isso é porquê uso o HNI a dez anos. Quando
comecei só conseguia 8 metros, menos do que o record olímpico, para
que tenham noção. Não se preocupem em falhar nas primeiras vezes."
Nadia posicionou o planador sobre a linha, antes da posição onde, a
meia distância, estava do primeiro recruta. Soou o apito o primeiro
cadete correu. Instantes depois ele saltou e, para o êxtase dos
jovens, atingiu uma marca de mais de doze metros:
"Perfeito, recruta Salgado! Vamos lá!" disse Nadia, soando
o apito para o segundo recruta.
Conforme foram sendo feitos saltos a média de bons desempenhos
estava acima da metade. Thiago Barbosa foi o primeiro a saltar e
conseguir igualar a marca de 20 metros da instrutora Nadia.
"Barbosa! Incrível!" exclamou Rock. A mulher estava se
divertindo tanto com a atividade quanto os jovens que testavam seus
limites.
Na sequência dele, Matheus Alabart atingiu mais de 22 metros, para a
festa dos recrutas, que berravam em excitação:
― Caramba, Matheus! Vamos ser rivais e tanto! ― exclamou Thiago,
dando tapas no ombro do amigo quando este se aproximou.
O primeiro que pareceu irritado com seu salto inaugural foi Fernando
Alabart. Conseguiu 12 metros e foi aplaudido pela instrutora Nadia,
que ressaltou ser uma ótima marca para quem estava na faixa etária
mais baixa do treinamento, 13 anos. Porém Fernando parecia que
desejava ter tido o mesmo desempenho do irmão.
Passando da metade da fila chegou a vez dos irmãos Ivanoff. Daniel,
que também era da faixa mais baixa de idade conseguiu uma marca de
15 metros. Isso pareceu chatear Fernando também, mas o garoto não
teve muito tempo para pensar nisto, pois logo em seguida foi a vez de
Fábio Ivanoff.
Desde a corrida os outros repararam na velocidade superior que o
filho mais velho do Almirante Ivanoff teve. Seu salto foi cheio de
técnica e o impulso digno de um atleta olímpico. Sua marca foi de
30 metros:
― Que monstro! ― exclamou Leonado, assombrado como praticamente
todos estavam. Diferente de antes, Nadia Rock pareceu não partilhar
dos sentimentos dos jovens.
Isso porquê ela, assim como os outros instrutores, havia visto
reproduções das simulações de Fábio e já sabia de seu talento
superior. A mulher em especial já tinha esse palpite desde antes
disto.
Fernando pareceu não mais se aborrecer quando outros fizeram marcas
superiores as suas. Estava mais é tentando puxar conversa com Daniel
e seu irmão recordista.
A vez de Leonardo, Thales e Juliana chegou quando era quase final da
fila. Leonardo atingiu 17 metros, Thales 20 metros e então Juliana
se preparou.
A garota nunca tinha corrido na escola além do exigido durante as
aulas de educação física. Seus resultados sempre havia sido
bastante medianos o que não a fez pensar durante o tempo de espera
que poderia ser diferente agora. Sabia dos seus bons resultados na
simulação, mas aquilo era outra coisa. Só que algo aconteceu
quando o apito da instrutora Nadia Rock soou.
Não foi um fenômeno sobrenatural, mas somente um estado de
silêncio. Uma quietude absoluta sobreveio aos pensamentos da jovem
que se moveu para frente sem ter mais noção de qualquer coisa.
Moveu-se, correu, e saltou na hora correta, porém sem precisar se
preocupar com nada, seu corpo e o HNI sabiam o que era pra ser feito.
Seus pés foram se aproximando do chão com uma velocidade alta, ela
não estava acostumada com saltos. Ao pousar ela se desequilibrou e
suas mãos foram para frente num impulso de se apoiar.
E se apoiaram. No vidro que lacrava a parede da base. A exatos 37
metros da marca que dividia o meio do salão.
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